terça-feira, 22 de março de 2016

RUÍNA



 
Essa foto do filme “M, o Vampiro” (1931), uma das obras primas do Expressionismo alemão do diretor Fritz Lang, mostra o momento em que o personagem principal do filme, um serial-killer, é identificado pela população.
Os dedos acusadores, incriminando o suspeito, tornam ainda mais evidente a expressão de total desamparo e desespero do ator Peter Lorre. O “vampiro” foi, finalmente, após uma trilha de crimes cometidos contra as crianças de Dusseldorf, desmascarado. Em seu rosto, um rictus de horror que muito revela sobre seu caráter, como da tomada de consciência das consequências de seus atos.
Não mais mentiras, disfarces, subterfúgios. A hora da verdade é chegada. Esse assassino pode ter enganado a muitos, durante muito tempo e isso pode te-lo transformado num arrogante matador. Entretanto, mesmo que tardia, a verdade é algo da qual não podemos escapar totalmente e, no caso desse personagem, a foto acima retrata a sua queda.
Nada mais poderá salvá-lo. Todas as suspeitas se confirmaram e provas concretas foram coletadas. Não há mais condições para álibis ou novas mentiras. O rastro de seus crimes e o acreditar-se mais esperto e inteligente que todos os demais, foram a sua própria armadilha. Agora é o momento em que o Ego é reduzido à nada.



A pintora Pamela Colman Smith, no começo do século passado, criou uma imagem muito dramática para a carta 10 de Espadas do tarot do Waite. Nela, uma figura humana está prostrada ao chão com 10 espadas cravadas em suas costas. É a morte moral, do respeito e aceitação sociais, do orgulho, do Ego. É o fim. Há que reconhecer ter perdido todas as batalhas, ter sido vencido em todas as suas tentativas de impor-se. Não há outra saída a não ser entregar-se, reconhecer a derrota e, como nada mais há para perder, recomeçar a construir-se, agora sem ilusões, sem fraquezas, sem preconceitos, com novas crenças e valores.

O “vampiro”, também, foi derrotado pela luz, pela claridade e transparência da verdade. Seus atos escusos foram expostos, inclusive a si próprio. Ele, que os cometia protegido dos outros, e da sua consciência, nas sombras da noite, tem nos dedos acusadores que apontam em sua direção como que raios de luz a revelar-lhe o quão errado estivera até então. É chegado o tempo de sofrer as consequências dos erros cometidos, resignar-se, curvar-se diante das evidências e, na medida do possível, reerguer-se, regenerar-se, curar suas feridas.
Ambas as figuras, tanto no fotograma do filme quanto na carta, estão sem saída. Um está “contra a parede”; o outro, “derrubado”. Os dois: vencidos, derrotados.
O que cada um foi ou representou, acreditou ou cometeu, está morto e, como tal, dá lugar para o novo. Pior do que está, não vai ficar. É o “fundo do poço” e, como tal, só lhes sobra subir pois, descer mais, é impossível.

Alex Tarólogo

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