sexta-feira, 15 de julho de 2016

PENDURADO





PENDURADO

O jogo “da forca” é aquele em que, a cada letra errada para formar uma determinada palavra, o jogador vai acrescentando mais uma parte ao desenho que o representa. O que ele não pode, ou deve, deixar que aconteça, é cometer um número de erros suficiente que seu avatar iconográfico fique completo. O pior é que essa figurinha enquanto vai sendo completada, pelos erros do jogador, vai sendo enforcada. O Jogo começa com a corda, a estrutura do cadafalso e a “palavra secreta”.
A foto acima tem muito dessa brincadeira. O indivíduo vai criando marcas nas paredes, que talvez representem os dias em que está encarcerado ou, mesmo, os seus erros. Enquanto isso, vai-se formando, membro a membro, a figura a ser enforcada. E, note-se, o próprio homem já está com uma corda no pescoço...

Quase todas as vezes que observo as diversas representações artísticas do Arcano XII, o Pendurado (que muitos, devido a uma tradução literal do nome inglês dessa carta, o chamam de Enforcado), penso em situação semelhante à da imagem acima. Tudo nele me lembra um tempo forçado de reclusão. Uma época em que nada progride. Uma ameaça que a presente situação pode ainda piorar...
Se a origem da carta está, ou não, ligada a punições, ritos de passagem, à desmoralização, isso é pouco perto da maneira explícita que ela costuma ser ilustrada.

Sem dúvidas, ficar pendurado por uma perna deve ser, antes de mais nada, algo altamente doloroso. Uma tortura. Além do fato de que seria necessário um grande preparo físico, talvez o de um atleta olímpico, para a própria pessoa conseguir flexionar-se de livrar-se da amarra. Ainda assim corre o risco de cair de cabeça.




Tem-se que considerar também o fato de que, imobilizado, o sujeito não tem condições de exercitar seu direito de ir e vir, o seu livre arbítrio quanto às opções de onde estar. Como se isso já não fosse o suficiente, ficar numa situação inversa aos demais expõe o indivíduo ao escárnio alheio. Torna-se motivo de chacota. Tem sua autoestima aviltada. O Ego reduz-se a uma sombra do que já foi.
Ninguém opta por esse tipo de situação de boa vontade ou porque assim o quer, a não ser, é claro, aqueles que vivem de fazerem-se de “pobres vítimas de um destino cruel, enjeitados por todos, frutos do desprezo de um deus cruel”. Normalmente, quando nos vemos nesse triste papel de Pendurados, é porque não tínhamos outra opção. Temos que vive-lo, em sua extensão, esperando que, ao menos, sua duração seja breve e que possamos descobrir logo a "palavra oculta", a razão do porque estarmos envolvidos em tal episódio, e nos safarmos da corda que vai, como no jogo da forca, se apertando em nossos pescoços.

Eu me pergunto se, enquanto passamos por situações que nos limitam a ação, nos sufocam, que nos obrigam a rever toda uma filosofia de vida, que nos forçam a esperar por resultados que parecem nunca acontecer, se realmente acreditamos numa recompensa qualquer para esse tipo de, digamos, tortura. Quase todas as ilustrações que conheço desse Arcano, acrescentam um halo de luz, numa referência quase explícita à divindade ou à iluminação interior, no pobre coitado que balança pendurado pelo pé. Isso para nos recordar, penso eu, que todo sacrifício nos redime, eleva, nos torna melhores e deles saímos mais sábios, experientes, preparados, com um outro olhar sobre tudo e todos.
Pode mesmo ser isso, e eu espero sinceramente que assim o seja.

Alex Tarólogo

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