Foram, e ainda são, observatórios astronômicos. Serviram para manter as chamas, ou luzes, que guiavam, a lugar seguro, os barcos e seus tripulantes quando as noites eram tão escuras que não lhes permitia seguir as estrelas. Foram construídas para proteção e ataque, permitindo enxergar ao longe o acampamento inimigo e suas manobras, bem como distanciar-se do alcance de suas armas, mas surpreendendo-o com ataques aéreos. Foram prisões, celeiros e cofres inexpugnáveis. Abrigaram Rapunzéis de todas as eras das tentações da carne, nem sempre com sucesso, dependendo do comprimento de suas tranças e do tamanho de seus desejos... Foram alvos especialmente escolhidos para abomináveis ataques terroristas, pois representavam o tamanho do poderio e do orgulho de uma nação. Finalmente, a de Babel, mais personagem bíblica do que uma construção real, entretanto um exemplo de como a pretensão do homem em vir a conhecer, e portanto, igualar-se a seu deus, pode acabar em confusão e ruína pessoal.
Vivemos em torres, em nossos apartamentos aglomerados verticalmente, dividindo um mesmo espaço onde, tantas vezes, não conhecemos sequer nosso vizinho ao lado. É a solidão da grande cidade, a solidão coletiva, aquela na qual buscamos viver numa colmeia, porém alheios aos demais que conosco convivem.
Quando nos justificamos sobre a necessidade da preservação da nossa intimidade, talvez estejamos confessando o enorme medo de, ao nos comparar com o outro, percebermos que não somos tudo aquilo que pensamos ser. Talvez busquemos celas onde possamos nos acreditar protegidos em nossa presumida superioridade, onde nos sentimos "reis e "rainhas" dos nossos domínios. Talvez nos isolemos cada vez mais por temermos que descubram que somos ratos que rugem, como o pequeno Mágico de Oz. Talvez...
Mas se concordarmos em ver a Torre como um abrigo temporário, um plano mais elevado, com muitos degraus e pavimentos, de onde podemos avistar com mais acuidade e na sua totalidade o horizonte que nos cerca, uma construção de grossas paredes que nos permitem ouvir o próprio silêncio, então estaremos nos referindo à busca da paz, através do isolamento que permite uma melhor reflexão sobre as virtudes que podem nos conduzir ao êxito da empreitada.
Ela pode ser vista como a capa que abriga o Eremita, protegendo-o em sua filosófica busca interior. Também pode ser uma declaração pessoal de coragem e determinação como na Força, marcando, confiante, sua envergadura e posição nesta existência. Não posso deixar de vê-la como o misterioso e imaterial templo que abriga os saberes da Sacerdotisa, ou a ponte que liga os conhecimentos entre o divino e o humano, representados pelo Hierofante. Ou, quem sabe, a masmorra onde o Diabo mantém aprisionadas nas correntes do egocentrismo, suas arrogantes e ambiciosas vitimas.
Volto a admirar a gravura e lá está ela, humanizada em suas formas, austera, independente e dominadora, solidamente fundamentada na desértica paisagem, olhando-me do alto, importante, superior, confiante, crítica, desafiadora.
Reconhecemos-nos de imediato, e nos saudamos. Ela, somos todos nós.
Eu, você, ele, nós... Torres.
Alex Tarólogo
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