sexta-feira, 17 de junho de 2016

EM TRÂNSITO





EM TRÂNSITO


A imagem de uma garrafa, que abriga em seu interior uma mensagem, vinda dar a uma praia qualquer é sempre interessante, ainda que seja um lugar comum em romances e filmes. O mar, nesse caso, funciona como um carteiro, cumpridor de sua missão, e que sabe onde entregar a “correspondência”.
Na verdade, não é uma correspondência, pois não há a menor condição de resposta. Para onde enviar? É, mesmo, uma mensagem. Uma declaração, um depoimento, um testemunho, uma consideração, um aviso, algumas reflexões, uma piada.

A imagem da garrafa lançada ao mar, que navega mares e oceanos, enfrenta perigos diversos na forma de tempestades, o sol implacável, animais, ventos, correntes marítimas, até aportar nas areias mornas e esperar que alguém a abra e leia se conteúdo, traz consigo uma ideia de um dever solitário.
Quando vi a foto acima, de imediato associei-a ao 6 de Espadas. É até bastante óbvio pois temos, em ambas, o elemento mar, a nave (barco/garrafa), a figura feminina à mercê de ser conduzida (pelo navegador do barco ou pelo destino).

Difícil, observando-se ambas, não associá-las à viagens, mudanças, transporte, transferência. E isso também está contido em seu significado taromântico. Entretanto, por estarmos lidando com uma carta do naipe de Espadas, estamos na esfera do racional, do pensamento abstrato, da análise mental, do discernimento, da verdade, das questões éticas e morais, do cálculo, da objetividade, da precisão.
O que é que essa mulher coberta por uma escura capa e abraçada a uma criança (?) transporta, em forma de 6 espadas? E para onde vai? E quem é o homem que dirige a embarcação?
Ou seja, esse conjunto de personagens em uma determinada situação que beira o surreal (afinal, 6 espadas fincadas no fundo de um barco de madeira não é muito normal...) é que inspira as associações e respostas que cada um obtém da sua atenta observação.

Mas não podemos desconsiderar duas coisas: mudança e raciocínio.




Olho, novamente, ambas imagens e creio ver alguém buscando um novo lugar onde seu conhecimento, seus princípios, aquilo em que ela acredita, a sua forma de pensar e avaliar o mundo encontrem guarida, encontrem ressonância, possam ser apreciados. É como se ela estivesse pensando: “Os incomodados que se retirem”, e ela própria abandonasse uma posição anterior, levando em sua bagagem aquilo que é seu (sua maneira de pensar e interpretar a realidade) e buscasse um porto seguro para si e para os seus.
Isso parece não acontecer de maneira muito fria ou calculista, pois é pelos mais ou menos conturbados movimentos das emoções, entre ondas e calmarias, que essa viagem se processa. Algo de importante, emocionalmente, deve ter sido abandonado em função dessa mudança. Grandes expectativas, geradoras de angústias e temores, fazem parte dessa resolução.

Chegará, ela, ao seu destino final exatamente como partiu? Terão o tempo no mar, o balanço do barco, a ausência de terra firme, a distância percorrida, o possível diálogo com o barqueiro (um mestre, um guru, um professor, um orientador?) modificado algo em sua filosofia, naquilo em que crê, em sua maneira pessoal de captar o ambiente que a cerca, na forma em que compactua ou rejeita a opinião e a verdade alheia? Talvez não. Provavelmente sim. Isso sempre dependerá de quanto ela está disposta em rever seus conceitos, reorganizar suas estruturas mentais, ter uma mente investigativa a tal ponto que a impulsiona a novas descobertas, análises e comparações.

De qualquer forma, ela mesma, essa mulher na garrafa, é a mensagem. Uma missionária de sua própria causa, navegando solitária, porém protegida por aquilo que sabe, que conhece.
Na garrafa, seu timoneiro é o próprio Universo que, muito possivelmente, irá desembarcá-la onde ela sempre deveria ter estado.


Alex Tarólogo

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