segunda-feira, 16 de maio de 2016

EM PAZ




EM PAZ

Há, nessa foto, aos meus olhos, uma beleza feita de opostos complementares: Yang e Yin. Céu e Terra. Material e Espiritual. A pedra rude, dura, imobilizada, escamada, modelada pelo tempo, chuvas e ventos, pelos roncos do interior do planeta, é cenário para um dos maiores exemplos da sofisticação do pensamento humano, a música.

Abstratos sons reunidos para expressarem os mais profundos sentimentos abrigados na alma do artista, são executados com elegância, equilíbrio e maestria, como se para amenizarem a desértica paisagem.
Olho uma vez mais a imagem, que me remete à abertura do filme do Kubrick, "2001, uma odisseia no espaço", onde num terreno muito semelhante, habitado pelos nossos darwinianos ancestrais, um irrepreensivelmente geométrico monólito causa estranheza. 
Prenúncio do processo civilizador daquelas simiescas criaturas, vejo-o, novamente, no violoncelista que representa a arte da nossa espécie.

Minha atenção é capturada pela solitária figura desse homem, equilibrando-se elegantemente, aparentemente alheio à primitiva geografia do local. Quanta segurança, quanta experiência, quanta tranqüilidade ele exala ao manusear com destreza e graça o arco de seu violoncelo, inundando aquele pedaço do Universo com sua música.


Ainda que todo o ambiente nos remeta à ideia de dificuldade, agressividade e instabilidade, ele, tranquilo, é a personificação da de toda a evolução do Homem neste planeta. É o retrato da capacidade da mente humana em, alquimicamente, evoluir do estado mais rudimentar de raciocínio a conceitos filosóficos dos mais extraordinários.

E isso necessita de Tempo. E Paciência. Foi preciso que o planeta se alterasse, que oceanos revelassem terras insuspeitas, que espécies surgissem, que seres, os mais diversos, em constante transformação, evoluíssem. Foi preciso sobreviver, procriar, vencer o medo, desenvolver habilidades e, sobretudo, descobrir, muito lentamente, que há um mistério que esconde a verdadeira razão de tudo isso.

Entre a montanha brotando das profundezas da terra e o instrumentista há um lapso de milhões de anos. Ambos são arcanos representantes de seus reinos. Ambos ali estão desde priscas eras, e se reconhecem, e se unem numa brecha qualquer do Tempo, para, juntos, celebrarem a beleza da criação.
E nisso há, ainda, uma beleza maior.

Alex Tarologo

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