quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

TÉDIO






TÉDIO

Basta um simples olhar na pintura acima para que a idéia de insatisfação se evidencie. Ainda que tudo possuam, que sejam bem sucedidos, que estejam abrigados e protegidos, a rotina tomou conta do ambiente e das vidas desses personagens, tirando-lhes a alegria, o interesse e a disposição.
Nem todos as possibilidades que se perfilam, na imagem da metrópole sobre a mesa, pronta para ser "degustada", vivenciada e experimentadas de todas as maneiras, com acesso livre, nada disso lhes retira a apatia das almas.
Tudo é silêncio nesse espaço onde nada falta, seja a capacidade de reconhecer e criar o belo (os quadros na parede), ou a segurança material (a mesa e as cadeiras), ou até o conforto do aspecto doméstico (o gato). Falta algo. Falta motivação. Falta uma razão que os façam abandonar o estado letárgico em que se encontram, acomodados, porém desgostosos, melancólicos, e os traga de novo para a vida. A cadeira vazia, como que a espera de algo ou alguém, é o símbolo da ausência de interesse que essas pessoas vivem.




O 4 de Copas, na imagem criada para o tarot de Waite por Pamela Coleman Smith, interpreta esse estado de fastio na figura do jovem sentado sob uma árvore, de braços e pernas cruzadas, completamente fechado em si mesmo, olhando catatonicamente para as 3 taças perfiladas à sua frente. Ele as tem. Ele já as conhece. Delas ele provou o conteúdo e agora, se não as ignora ou rejeita, também não mais as aprecia. Tudo virou lugar-comum.
Encostado ao tronco da árvore, cuja seiva encontra-se em contínua circulação, é como se buscasse sentir que suas emoções também voltassem, pelo estímulo do contato, a fluir.
O tédio é a estagnação dos sentidos e, portanto, sinaliza um período de descontentamento, falta de motivação, desinteresse e distração. Tudo é lento e, por vezes, doloroso, pois existe uma enorme passividade a ser vencida.
O que ambas as figuras também têm em comum, cada uma à sua maneira, é que esse estado de "pouco caso" nos distrai de oportunidades e possibilidades que estão acontecendo e nos sendo constantemente oferecidas. Na carta do tarot, o rapaz parece incapaz de se aperceber que uma nova taça, plena de novas emoções e motivos para despertar seus sentidos, está-lhe sendo oferecida pelo Universo. Na pintura, com seus olhares fixos na noturna e nublada cidade que se assenta sobre a mesa, perdem de vista a cidade real, ensolarada e cheia de vida que estaria ao seu alcance, bastando que olhassem para a janela. 
Novos desafios, novas chances, nova descarga de adrenalina, novos interesses estão disponíveis, mas é necessária a vontade de abandonar o estado de aprisionamento, de isolamento, de solidão, de falta de perspectiva, de dissabor. É preciso dar, novamente, uma chance à alegria e ao prazer, que já estão disponíveis no próprio cotidiano, bastando permitir-se sentir.

Alex Tarólogo

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