quarta-feira, 17 de agosto de 2016

AUTONOMIA




Essa imagem parece-me uma releitura daquela criada para representar o 9 de Ouros do Tarot Rider-Waite-Smith. Uma mulher solitária, numa paisagem impressionante, tendo como única companhia o seu falcão.

A figura acima, menos rebuscada, e contra um cenário montanhoso é a expressão da mensagem embutida nessa carta do Tarot: a satisfação de ter atingido a um patamar de desenvolvimento pretendido e estar em perfeita harmonia com o ambiente e consigo mesmo.

Aquele leão da carta da Força, aceito, compreendido e controlado, agora reaparece na plumagem dessa ave caçadora, pronta para executar o que seus instintos a induzem, porém sob total controle de sua dona. Se com o leão a forca era muito mais primária, física, terrena, agora o céu é o limite. Os voos são rápidos, os movimentos precisos, os olhos aguçados, a visão muito mais abrangente, de 360º, as garras fortes. Persegue seus objetivos com equilíbrio e tenacidade, de maneira clara, holística.

A montanha, representação de grandes interesses e objetivos, de poderio, superioridade e acúmulo de reservas, também pode simbolizar um obstáculo, em sua frieza,  e necessita de coragem, determinação, competência e planejamento para ser escalada. Só mesmo a uma inabalável determinação faz com que o alpinista a conquiste e finque nela sua bandeira, deixando sua marca pessoal.

Pode-se, simplesmente apreciando a foto, ouvir os ventos que sopram nas grandes alturas, onde a solitária caçadora sente-se à vontade. Ela se basta. Não necessita de nada ou ninguém para lembrar-se de quem é, do que deseja e o que já conquistou. Seus objetivos ela mesma os constrói.



O 9 de Ouros pode levar à uma enganada interpretação de "solidão, apesar de ter tudo o que quer". Isso é, antes de mais nada confundir os significados de ser solitário e estar só.
Existem milhões e milhões de pessoas solitárias neste planeta e que vivem mendigando a atenção, a companhia e o amor do outro para poderem aceitar-se a si próprias. Sem o "selo de qualidade" dado pelo outro, elas se sente rejeitadas, menores, incompletas, desvalorizadas. Ficam aterrorizadas quando estão consigo mesmas pois, afinal, não sabem o que fazer de si próprias.

Outras existem, e esse é o caso da personagem que estampa o 9 de Ouros, que estão de bem com a vida e consigo mesmas. Podem ter feito escolhas pessoais que as isolaram, em parte, do convívio mais íntimo, mas foram escolhas pensadas, que produziram os resultados esperados e das quais nada têm a reclamar. Podem estar, em maior ou menor grau, solitárias, mas não padecem de solidão. Estão em perfeita harmonia com seus desejos, pretensões, vontades, esperanças, crenças e conquistas. Gostam de si mesmas, não de maneira ególatra, mas por terem agido de acordo com seus interesses e princípios, enfrentado as dificuldades de maneira sóbria, racional, usando de seus conhecimentos e se utilizando de cada obstáculo como a um degrau a mais em sua escalada. Não se isolam, mas também estão cientes que, em seu percurso, tornaram-se mais exigentes. Aprenderam a sere mais seletivas e sabem diferenciar e priorizar "qualidade" de "quantidade". Não buscam companhia para compartilhar solidão a dois, mas para poderem evoluir, cada um à sua maneira, respeitando-se, não usando o outro e nem se deixando usar.

Evoluída, seus instintos a retiram da primitiva luta pelo domínio e sobrevivência e a trazem ao mais alto, ao mais espiritual que a civilização consegue conceber, perceber, experimentar e ambicionar. Ela não necessita mais preocupar-se com aquilo que só representa acumulo material, até mesmo porque esse é um estágio que ela já viveu. Ocupa-se agora em usar das suas posses para causas mais amplas, mais elevadas, menos particulares. E, para tanto, usa seus instintos, na forma de seu fiel escudeiro, o falcão, para subir ao mais alto, e, de lá de cima, encontrar uma maneira de retribuir o tudo que lhe foi concedido.

Alex Tarólogo
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segunda-feira, 1 de agosto de 2016

AS TENTAÇÕES



Desde a primeira vez que vi essa foto associei-a àquela imagem do 7 de Copas, criada pela Pamela Smith para o Tarot do Waite.

Independente de todos os possíveis significados, inclusive alguns bastante divergentes, atribuídos à carta, ela sempre me pareceu a fotografia de alguém frente a uma vitrine, dessas das grandes lojas. Literalmente hipnotizado pelas possibilidades de ofertas, a figura central está alheia a nós que o observamos, e ao mundo. A sensação que essa imagem sempre me passou é a de alguém vivendo um momento de absoluta entrega aos prazeres do consumismo, das fantasiosas possibilidades que a propaganda e a publicidade criam e que nos convencem a querermos ter. É aquele momento em que nos perguntamos: "como é que eu pude viver sem isso até hoje???


Consumir além do necessário, pode ser viciante. Não, eu não faço parte daquele grupo que acredita pia e entusiasticamente que devemos nos contentar com pouco, não adquirir, nem almejar, aquilo do qual não temos a mais imediata necessidade, e desconfiarmos de tudo o que a publicidade, tida como a máquina que movimenta a economia, nos empurra garganta abaixo.

Mas também, claro que sei que há limite para tudo e que nunca se deve comprometer o que não se tem para ter-se o que se quer, por capricho. Não irei fazer aquela apologia do "gaste agora, compre tudo o que quiser. Depois a gente dá um jeito". Obviamente, não. Mas também não fiz voto de pobreza e nem pertenço a uma ordem trapista. Os recursos do novo celular, a ser lançado para o Natal, já me faz olhar para o meu, como uma relíquia de 6 meses de idade...

As tentações possuem tentáculos. Obvio, não é mesmo? Assim elas nos arrebatam da nossa pacifica, e maçante vidinha comum e nos transportam para uma aventura digna de best-sellers e filmes de ação. Subjugam nossa vontade, ignoram qualquer lógica ou razão, e nos seduzem com a idéia de que seremos totalmente felizes se adquirirmos tudo o que quisermos, encontrarmos prazer com qualquer um, formos reconhecidos e bajulados por aquilo que temos e fazemos absoluta questão em exibir, naturalmente.


E, por que não por aquilo que somos ?, poderão me perguntar. Porque, em diversas situações, o que realmente somos deixou de existir, cedendo lugar a um ser movido exclusivamente por sensações, ilusões, fantasias, paixões, desejos e poderes temporários, de brevíssima duração. Eternamente insatisfeitos, sempre sentindo um vazio não identificável, vamos nos deixando arrastar, iludidos de que ainda temos algum controle sobre nossa vontade, nossos impulsos.

Na melhor das hipóteses, conseguimos a custo de muito sofrimento, e com o apoio de familiares, amigos e profissionais, nos libertar da compulsão de cedermos aos nossos instintos menos apreciáveis, aos nossos devaneios mais absurdos, aos nossos mais deploráveis vícios. Grupos de apoio existem e são eficazes nesse momento. Não é covardia e nem pouca auto-estima, reconhecer-se fraco, carente e dependente. Ao contrário, é preciso ser muito lúcido, para tanto. Ninguém vence todas as armadilhas que fazem do viver, especialmente sob o peso da observação, crítica e jugo social, uma arte.

Olhe bem para o simpático polvo (há muito tempo o Diabo deixou de lado o aspecto monstruoso e o aroma de enxofre...) no topo desta página, tão cheio de ofertas, de possibilidades, de pequenas e atraentes fantasias. Optar por qualquer delas pode resultar em ter de lutar pela própria vida, no fundo de um mar... de dívidas!

quarta-feira, 20 de julho de 2016

FORMADORES DE OPINIÃO

                                     

Se há uma expressão dúbia e que muito se aproxima do pejorativo surgida na ultima década, freqüentemente usada pela imprensa, é a "formador de opinião". Com certeza você já a leu ou ouviu, em algum lugar, referindo-se a alguém a quem, por melhor definição, algumas pessoas consideram uma evolução do antigo "palpiteiro".
Sempre que a ouço me vem à lembrança a imagem invertida do Hierofante, ou Papa, o Arcano V do Tarot. Aquela figura que se propõe a ser um "lobbysta", um intermediário entre o profano e o sagrado, entre os deuses e os reles mortais. Perigoso como ele só, se auto-intitula um intérprete daquilo que os demais, sem a sua ajuda, seriam incapazes de entender.
Evidentemente essa figura sempre existiu, travestido de uma maneira ou outra, em todas as épocas e culturas. Sempre necessitou-se de alguém mais esclarecido que pudesse dar voz àquilo que os menos preparados deveriam saber. Encontramos essa criatura encarnada como um venerando e sábio mestre, um respeitado guru, um profissional cujo conhecimento abrevia a evolução dos demais, um orientador disposto a transformar a jornada do outro no caminho mais curto ao que lhe é importante e necessário saber, alguém que consiga ter uma visão clara da evolução da humanidade e possa, através de apropriadas reflexões e normas, ajudá-lá nesse processo. Esse é o Hierofante em seu melhor aspecto, quando suas mais brilhantes características ou qualidades estão à disposição da melhoria de condição de vida de muitos.
Mas, quando o lado obscuro desse personagem projeta sua sombra, cuidado! Cai por terra todo o humanitarismo, toda a generosidade das valiosas informações e conselhos. Desaparece o arauto do divino e surge o déspota, o maquiavélico manipulador de informações e consciências, aquele cujo conceito do que seja ética é o que expressa sua particular forma de pensar e favorece seus mais obscuros interesses.
Bom, mas essa deplorável figura não existiria se não fosse criada e elevada a essa posição. Ela, para existir, carece de séquito, de robozinhos dispostos a executarem seus mandos ou desmandos. O respeito que ela inspira não foi conquistado por méritos, mas atribuída por seus eleitores. Ele, o Hierofante mal dignificado, ocupa o cargo e usufrui dos benefícios porque essa posição lhe foi outorgada por seus párias, por gente que faz dele uma ampliação daquilo que são.
Bloggers, Snapchatters, Youtubers agregam milhares, e até milhões, de seguidores exibindo... suas vidas, ou seja, a ida com o cachorrinho à petshop, o tutorial de maquiagem, o depoimento sobre a dificuldade em manter um relacionamento (no caso, o dela / dele), a emoção de viajar mesmo não sabendo bem o que está vendo, a importância vital em saber comprar um artigo de luxo indispensável na vida de qualquer ser humano, etc, etc. Quando o "Fenômeno" estava no auge de sua carreira como jogador de futebol, quantos homens deixaram-se seduzir pelo seu estilo "Pinduca" e rasparam os cabelos, preservando apenas aquele topetinho? Talvez seja por esse tremendo sucesso e aprovação de público que um enciumado inglês de nome Beckham lançou o corte moicano para uma legião de outros torcedores, ou não, que independente de terem cabelos, idade e porte adequados ao corte, identificaram-se de imediato com o charme metrosexual do ídolo. E o que falar do poder do merchandising televisivo, que impinge aos consumidores mais incautos, ridículos modismos através dos personagens das novelas e afins?



Deve ser muito constrangedor à pessoa chamada, ou auto-intitulada, "formadora de opinião" perceber que seus seguidores são acéfalos. Só quem não tem opinião alguma, compra, empresta, copia, adere e usa a do outro como se sua fora. Só aquele, incapaz de refletir sobre a opinião alheia, compará-la com outras opções, verificar-lhe a origem, validade, qualidade e saber adptá-la às suas necessidades e interesses, à sua realidade enfim, é quem irá aumentar o séquito do pretenso dono de uma opinião a ser copiada.
Sempre achei a história do Flautista de Hamelin muito próxima à descrição dessas pessoas, esses Hierofantes de araque, que por um grande trabalho de marketing pessoal, por interesses dos mais escusos de uma determinada facção, ou por servirem de pobre inspiração para aqueles que não tem nenhuma, também se contentam e vangloriam em ter uma procissão de ratos, ou de inocentes, tolas, inexperientes e incautas criaturas, por hipnotizados acompanhantes. Vítimas do encantamento produzido pelos dons e talentos do flautista, sempre utilizados unicamente em beneficio de seus interesses pessoais, sejam eles financeiros ou de vingança, elas se deixam arrastar, em multidão, às profundezas do rio, onde encontram seu trágico fim. Esse metafórico afogamento nas escuras águas está a simbolizar a desilusão, o arrependimento, os sentimentos traídos.
Para ser mais gráfico, é aquela sensação de ridículo que a gente sofre quando, revendo o álbum de fotografias (se é que ainda existe isso) reconhece-se, por exemplo, usando boina, cavanhaque e bigode, a la Che Guevara, longe das selvas, mas na luta corporal para conseguir ser atendido no dia da inauguração do MacDonald's de um Shopping Center qualquer. Ou ofuscando completamente o magricelo noivo e perdida entre metros e metros de tafetá, envolta por rendas e babados em intermináveis camadas , que só fizeram ressaltar um corpo muito mais necessitado de um bom nutricionista e muitas horas de academia.
Opinião se forma colhendo de muitas fontes, de diversas procedências, com muita reflexão, deixando sedimentar aos poucos, nunca se permitindo acreditar ter encontrado uma resposta absoluta. Opinião é algo próprio, pessoal, que nos define e qualifica. Não pode ser postiça, ou nos faz umas verdadeiras e incautas "Maria-vai-com-as-outras". Não deve ser imposta e nem pode ser inflexível. Opinião deve ser a expressão de uma verdade individual, que serve perfeitamente a quem a possui e emite, mas que só se aperfeiçoa quando confrontada com outras. Quando isso não ocorre, pode virar Ato Institucional.
Daí então, adeus opiniões pessoais, autonomia, autoconhecimento, e salve, salve o Hierofante da vez!
Alex Tarólogo
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sexta-feira, 15 de julho de 2016

PENDURADO





PENDURADO

O jogo “da forca” é aquele em que, a cada letra errada para formar uma determinada palavra, o jogador vai acrescentando mais uma parte ao desenho que o representa. O que ele não pode, ou deve, deixar que aconteça, é cometer um número de erros suficiente que seu avatar iconográfico fique completo. O pior é que essa figurinha enquanto vai sendo completada, pelos erros do jogador, vai sendo enforcada. O Jogo começa com a corda, a estrutura do cadafalso e a “palavra secreta”.
A foto acima tem muito dessa brincadeira. O indivíduo vai criando marcas nas paredes, que talvez representem os dias em que está encarcerado ou, mesmo, os seus erros. Enquanto isso, vai-se formando, membro a membro, a figura a ser enforcada. E, note-se, o próprio homem já está com uma corda no pescoço...

Quase todas as vezes que observo as diversas representações artísticas do Arcano XII, o Pendurado (que muitos, devido a uma tradução literal do nome inglês dessa carta, o chamam de Enforcado), penso em situação semelhante à da imagem acima. Tudo nele me lembra um tempo forçado de reclusão. Uma época em que nada progride. Uma ameaça que a presente situação pode ainda piorar...
Se a origem da carta está, ou não, ligada a punições, ritos de passagem, à desmoralização, isso é pouco perto da maneira explícita que ela costuma ser ilustrada.

Sem dúvidas, ficar pendurado por uma perna deve ser, antes de mais nada, algo altamente doloroso. Uma tortura. Além do fato de que seria necessário um grande preparo físico, talvez o de um atleta olímpico, para a própria pessoa conseguir flexionar-se de livrar-se da amarra. Ainda assim corre o risco de cair de cabeça.




Tem-se que considerar também o fato de que, imobilizado, o sujeito não tem condições de exercitar seu direito de ir e vir, o seu livre arbítrio quanto às opções de onde estar. Como se isso já não fosse o suficiente, ficar numa situação inversa aos demais expõe o indivíduo ao escárnio alheio. Torna-se motivo de chacota. Tem sua autoestima aviltada. O Ego reduz-se a uma sombra do que já foi.
Ninguém opta por esse tipo de situação de boa vontade ou porque assim o quer, a não ser, é claro, aqueles que vivem de fazerem-se de “pobres vítimas de um destino cruel, enjeitados por todos, frutos do desprezo de um deus cruel”. Normalmente, quando nos vemos nesse triste papel de Pendurados, é porque não tínhamos outra opção. Temos que vive-lo, em sua extensão, esperando que, ao menos, sua duração seja breve e que possamos descobrir logo a "palavra oculta", a razão do porque estarmos envolvidos em tal episódio, e nos safarmos da corda que vai, como no jogo da forca, se apertando em nossos pescoços.

Eu me pergunto se, enquanto passamos por situações que nos limitam a ação, nos sufocam, que nos obrigam a rever toda uma filosofia de vida, que nos forçam a esperar por resultados que parecem nunca acontecer, se realmente acreditamos numa recompensa qualquer para esse tipo de, digamos, tortura. Quase todas as ilustrações que conheço desse Arcano, acrescentam um halo de luz, numa referência quase explícita à divindade ou à iluminação interior, no pobre coitado que balança pendurado pelo pé. Isso para nos recordar, penso eu, que todo sacrifício nos redime, eleva, nos torna melhores e deles saímos mais sábios, experientes, preparados, com um outro olhar sobre tudo e todos.
Pode mesmo ser isso, e eu espero sinceramente que assim o seja.

Alex Tarólogo

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terça-feira, 5 de julho de 2016

EGO







Creio ser essa uma das imagens mais interessantes que eu já tenha visto onde o conceito da Torre, a carta de número 19 do baralho Lenormand, parece estar graficamente bem representada. Torres sabemos serem construções elevadas, verticais, fálicas, que visam proporcionar um distanciamento do chão e uma proximidade maior com os céus. Sempre verdadeiras demonstrações da tecnologia, coragem, arrojo e ciência de cada época da evolução humana.

Foram, e ainda são, observatórios astronômicos. Serviram para manter as chamas, ou luzes, que guiavam, a lugar seguro, os barcos e seus tripulantes quando as noites eram tão escuras que não lhes permitia seguir as estrelas. Foram construídas para proteção e ataque, permitindo enxergar ao longe o acampamento inimigo e suas manobras, bem como distanciar-se do alcance de suas armas, mas surpreendendo-o com ataques aéreos. Foram prisões, celeiros e cofres inexpugnáveis. Abrigaram Rapunzéis de todas as eras das tentações da carne, nem sempre com sucesso, dependendo do comprimento de suas tranças e do tamanho de seus desejos... Foram alvos especialmente escolhidos para abomináveis ataques terroristas, pois representavam o tamanho do poderio e do orgulho de uma nação. Finalmente, a de Babel, mais personagem bíblica do que uma construção real, entretanto um exemplo de como a pretensão do homem em vir a conhecer, e portanto, igualar-se a seu deus, pode acabar em confusão e ruína pessoal.

Vivemos em torres, em nossos apartamentos aglomerados verticalmente, dividindo um mesmo espaço onde, tantas vezes, não conhecemos sequer nosso vizinho ao lado. É a solidão da grande cidade, a solidão coletiva, aquela na qual buscamos viver numa colmeia, porém alheios aos demais que conosco convivem.
Quando nos justificamos sobre a necessidade da preservação da nossa intimidade, talvez estejamos confessando o enorme medo de, ao nos comparar com o outro, percebermos que não somos tudo aquilo que pensamos ser. Talvez busquemos celas onde possamos nos acreditar protegidos em nossa presumida superioridade, onde nos sentimos "reis e "rainhas" dos nossos domínios. Talvez nos isolemos cada vez mais por temermos que descubram que somos ratos que rugem, como o pequeno Mágico de Oz. Talvez...

Mas se concordarmos em ver a Torre como um abrigo temporário, um plano mais elevado, com muitos degraus e pavimentos, de onde podemos avistar com mais acuidade e na sua totalidade o horizonte que nos cerca, uma construção de grossas paredes que nos permitem ouvir o próprio silêncio, então estaremos nos referindo à busca da paz, através do isolamento que permite uma melhor reflexão sobre as virtudes que podem nos conduzir ao êxito da empreitada.




Ela pode ser vista como a capa que abriga o Eremita, protegendo-o em sua filosófica busca interior. Também pode ser uma declaração pessoal de coragem e determinação como na Força, marcando, confiante, sua envergadura e posição nesta existência. Não posso deixar de vê-la como o misterioso e imaterial templo que abriga os saberes da Sacerdotisa, ou a ponte que liga os conhecimentos entre o divino e o humano, representados pelo Hierofante. Ou, quem sabe, a masmorra onde o Diabo mantém aprisionadas nas correntes do egocentrismo, suas arrogantes e ambiciosas vitimas.

Volto a admirar a gravura e lá está ela, humanizada em suas formas, austera, independente e dominadora, solidamente fundamentada na desértica paisagem, olhando-me do alto, importante, superior, confiante, crítica, desafiadora.
Reconhecemos-nos de imediato, e nos saudamos. Ela, somos todos nós.
Eu, você, ele, nós... Torres.

Alex Tarólogo

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segunda-feira, 27 de junho de 2016

DIABO




DIABO

O que me intriga nessa ilustração é a idéia de drama, de condenação, de sofrimento, de dor e, também, de possível redenção.
A figura do homem preso a um espinheiro e envolto por uma potente serpente, cuja boca escancarada prenuncia mais dor, sofrimento e morte, tudo isso num idílico e florido cenário, talvez o bíblico paraíso perdido, é, para mim, um bom comparativo, em termos de simbologia, com o Arcano XV do tarot, o Diabo.

Afinal quem, ou o que, é o Diabo? Quem é essa figura que perpassa a história da humanidade provocando sofrimentos de todas as espécies? Que enorme poder é esse que consegue derrotar a tal perfeição da criação divina? Que espaço, que lugar ele ocupa dentro desse Todo onipotente, omnipresente, a quem chamamos, entre outros nomes, de Deus? Se Deus (ou o nome que preferirem chamar, ou não, ao criador de todas a coisas) está presente e ocupa todos os lugares, até mesmo porque Ele é o Todo, onde então reside aquele ou aquilo a que chamamos de Mal? Qual é o espaço deixado vago por esse Deus presente e preenchendo todos os lugares, no qual o Mal habita? No coração e na mente dos homens? Mas se somos a imagem e a semelhança de quem, ou o que, nos criou, então, por mera dedução, o Mal que em nós reside é decorrente dessa herança genética... Se há um vácuo deixado para ser ocupado por qualquer outra coisa, ou entidade, então cai por terra o conceito assumido da omnipresença, omnisciência e omnipotência divina. Ou não.

Mas, conceitos e discussões teológicas `a parte, pois o que nos interessa aqui é a discussão comparativa entre as imagens, seus símbolos e significados, basta olharmos para o alto da ilustração para vermos, mãos espalmadas num ato receptivo, o que poderiamos interpretar como as "mãos" de Deus. Deus, envolto em uma nuvem de alvas flores e representado graficamente por um gesto de acolhimento, paira acima da sua criação, pronto para estender-lhe, novamente, os benefícios do Paraíso recusado. Ainda que a humanidade possa caminhar pelo vale das sombras, enfrentando os perigos da noite da alma, temendo o abandono nas profundas prisões do sofrimento, mesmo assim, num estado mais elevado da sua consciência, existe algo capaz de libera-lo.

Só sabemos o que é sofrer porque também conhecemos o estado de alegria; compreendemos o que é estar doente pois podemos comparar com o que é sentir-se bem e saudável; temos a noção da extensão dos efeitos de uma guerra por entendermos os benefícios dos tempos de paz; podemos não saber explicar perfeitamente o sentimento do amor, porém estamos conscientes que ele não é a mera paixão. Vivemos entre opostos, entre luz e sombra, entre extremos. O tão buscado "caminho do meio" nada mais é do que compreender onde se situam os limites, as fronteiras entre o Bem e o Mal absolutos, entre o que denominamos Deus e Diabo.

Sem tentar reinventar a roda, poderíamos refletir a respeito do conceito de que Deus, o Bem, o Positivo, é
o lado Luz, o lado vivo e progressivo de tudo, enquanto que o Diabo é aquilo que O justifica, Sua sombra, seu oposto complementar, aquilo que não pode ser chamado de bom, mas o Mal, o Negativo, o Destruidor, sem o qual não poderíamos compreende-Lo.
O Diabo, representa o que é menos elevado na natureza humana. É nossa condição de cegos para a luz, para a verdade e, portanto, para a felicidade (Paraíso). É nossa incapacidade de, ignorantes que somos, reconhecer que podemos, por opção, escolher o oposto, decidir por aquilo que possa nos trazer o contrário do Mal que vivenciamos. É um aspecto menos evoluído da nossa capacidade de abstração, que nos impede de "erguer os olhos do chão", de deixar de focar apenas os aspectos materiais e imediatistas da existência e buscar um sentido muito maior para tudo o que fazemos e provocamos.

 
 


Se na representação do Arcano XV, na quase absoluta maioria dos tarots existentes, encontramos uma figura muito mais animalesca do que humana subjugando um casal, é mesmo para reforçar a idéia de que o Mal é algo que vive na escuridão, mais ou menos escondido (tudo vai depender das nossas opções...) dentro de nós. Quando a ele concedemos o devido poder, nos domina e escraviza, mantendo-nos prisioneiros nas trevas da ignorância, enclausurados nas profundas cavernas do nosso medo, do desespero, da aflição, da falta de fé, da dependência, da desmedida ambição material.
Impedidos de vislumbrarmos o seu oposto, que é a própria liberdade de melhores escolhas, nos tornamos mineiros encerrados na busca de uma pedra preciosa qualquer, qualquer coisa que possa pretender justificar tudo aquilo que deixamos de ser quando optamos em, apenas, ter.

Alex Tarólogo

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quarta-feira, 22 de junho de 2016

EMPATE





EMPATE

A imagem de um prendedor de roupas, cada uma de suas partes de uma cor, como que dialogando entre si, pode ser comparada, em termos de simbologia, com o significado tarológico da carta do 2 de Espadas.
A figura pintada por Pamela Colman Smith para essa carta do tarot do Waite, onde uma figura vendada (sem fazer escolhas óbvias, racionais, influenciadas pelas aparências), está sentada (não tem pressa, a situação é demorada e demanda ajustes) de costas para o mar e a noite enluarada (evitando deixar-se decidir de forma unicamente emocional ou intuitiva), segura duas espadas de igual forma e tamanho (problemas, opiniões, possibilidades, opções, idéias, ações, etc. iguais em conteúdo e conseqüências), também expressa um conflito.
É uma decisão a ser tomada para a resolução de um problema, porém envolvendo opções que possuem o mesmo peso e medida. Ou seja, fica-se entre a cruz e a fogueira. É um beco sem saída.

Interessante observar que a carta 2 de Espadas retrata um momento de aparente paz. Há um silêncio, uma inatividade, uma imobilidade bastante frustrante e constrangedora na imagem. As espadas cruzada sobre o peito da mulher não irão permanecer nesse forçado equilíbrio por muito tempo. Mas, tempo é o que ela precisa para poder optar com maior segurança. Então, sentada, alheia às suas emoções e evitando confrontar-se com a realidade, ela espera.




E aí surge uma possível analogia com a ilustração do prendedor de roupas. Sua função é a de segurar, prender, imobilizar a roupa enquanto ela seca. Não é ele o agente da ação, mas um coadjuvante indispensável. Sem ele as roupas voariam ao sabor do vento e, ao invés de secarem, se perderiam ou se sujariam novamente. Ele controla o tempo para que a ação de secagem aconteça, realizada pelo sol e pelas correntes de ar.

O 2 de Espadas sugere ambivalência, conflito de interesses e opiniões aguarda-se uma escolha definitiva. Um trégua ou um acordo podem estar existindo, entretanto a situação não está resolvida e o problema continua ali, esperando uma solução. Talvez seja chegada a hora de parar de procrastinar e agir, optar, decidir, escolher. Talvez, não. Pode ser que a figura da carta do tarot esteja aguardando, sem decidir-se, esperando que a situação se resolva por si mesma, por fatores externos, sem o seu comprometimento.

No desenho do pregador de roupa, ambas as partes são iguais e válidas, necessárias para o funcionamento do artefato, ainda que opostas, antagônicas. Mas ele, também, não decide como ou em quanto tempo a roupa deve secar. Fica lá, parado, prendendo a situação, aguardando que o clima e o tempo decidam como, quando e porque faze-lo. Enquanto isso, espera.

Alex Tarólogo

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sexta-feira, 17 de junho de 2016

EM TRÂNSITO





EM TRÂNSITO


A imagem de uma garrafa, que abriga em seu interior uma mensagem, vinda dar a uma praia qualquer é sempre interessante, ainda que seja um lugar comum em romances e filmes. O mar, nesse caso, funciona como um carteiro, cumpridor de sua missão, e que sabe onde entregar a “correspondência”.
Na verdade, não é uma correspondência, pois não há a menor condição de resposta. Para onde enviar? É, mesmo, uma mensagem. Uma declaração, um depoimento, um testemunho, uma consideração, um aviso, algumas reflexões, uma piada.

A imagem da garrafa lançada ao mar, que navega mares e oceanos, enfrenta perigos diversos na forma de tempestades, o sol implacável, animais, ventos, correntes marítimas, até aportar nas areias mornas e esperar que alguém a abra e leia se conteúdo, traz consigo uma ideia de um dever solitário.
Quando vi a foto acima, de imediato associei-a ao 6 de Espadas. É até bastante óbvio pois temos, em ambas, o elemento mar, a nave (barco/garrafa), a figura feminina à mercê de ser conduzida (pelo navegador do barco ou pelo destino).

Difícil, observando-se ambas, não associá-las à viagens, mudanças, transporte, transferência. E isso também está contido em seu significado taromântico. Entretanto, por estarmos lidando com uma carta do naipe de Espadas, estamos na esfera do racional, do pensamento abstrato, da análise mental, do discernimento, da verdade, das questões éticas e morais, do cálculo, da objetividade, da precisão.
O que é que essa mulher coberta por uma escura capa e abraçada a uma criança (?) transporta, em forma de 6 espadas? E para onde vai? E quem é o homem que dirige a embarcação?
Ou seja, esse conjunto de personagens em uma determinada situação que beira o surreal (afinal, 6 espadas fincadas no fundo de um barco de madeira não é muito normal...) é que inspira as associações e respostas que cada um obtém da sua atenta observação.

Mas não podemos desconsiderar duas coisas: mudança e raciocínio.




Olho, novamente, ambas imagens e creio ver alguém buscando um novo lugar onde seu conhecimento, seus princípios, aquilo em que ela acredita, a sua forma de pensar e avaliar o mundo encontrem guarida, encontrem ressonância, possam ser apreciados. É como se ela estivesse pensando: “Os incomodados que se retirem”, e ela própria abandonasse uma posição anterior, levando em sua bagagem aquilo que é seu (sua maneira de pensar e interpretar a realidade) e buscasse um porto seguro para si e para os seus.
Isso parece não acontecer de maneira muito fria ou calculista, pois é pelos mais ou menos conturbados movimentos das emoções, entre ondas e calmarias, que essa viagem se processa. Algo de importante, emocionalmente, deve ter sido abandonado em função dessa mudança. Grandes expectativas, geradoras de angústias e temores, fazem parte dessa resolução.

Chegará, ela, ao seu destino final exatamente como partiu? Terão o tempo no mar, o balanço do barco, a ausência de terra firme, a distância percorrida, o possível diálogo com o barqueiro (um mestre, um guru, um professor, um orientador?) modificado algo em sua filosofia, naquilo em que crê, em sua maneira pessoal de captar o ambiente que a cerca, na forma em que compactua ou rejeita a opinião e a verdade alheia? Talvez não. Provavelmente sim. Isso sempre dependerá de quanto ela está disposta em rever seus conceitos, reorganizar suas estruturas mentais, ter uma mente investigativa a tal ponto que a impulsiona a novas descobertas, análises e comparações.

De qualquer forma, ela mesma, essa mulher na garrafa, é a mensagem. Uma missionária de sua própria causa, navegando solitária, porém protegida por aquilo que sabe, que conhece.
Na garrafa, seu timoneiro é o próprio Universo que, muito possivelmente, irá desembarcá-la onde ela sempre deveria ter estado.


Alex Tarólogo

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segunda-feira, 13 de junho de 2016

APEGO







APEGO

Na vida, somos peões e, ao mesmo tempo, jogadores. No grande tabuleiro da nossa existência, batalhas, algumas cruéis, são travadas constantemente. Sentimos a necessidade em nos avaliarmos, compararmos, testarmos e, de alguma maneira, acreditar que podemos chegar a um nivel de auto-conhecimento e a um patamar de segurança que venha servir como uma "blindagem" às adversidades da vida.

Não são poucas as pessoas que acumulam muito, na esperança de que isso lhes confira algum poder sobre os outros, que os faça destacar socialmente, que lhes permita a admiração e reconhecimento alheio. Vêem naquilo que adquiriram, e que podem exibir orgulhosamente, um troféu que lhes garanta uma certa forma de eternidade. Acreditam-se campeões e, portanto, com direito a olharem os demais do alto de seus pódios.

Alguns passam a vida nessa batalha, vendo a tudo e a todos como oportunidades de conquista, cobiçando prêmios e mais prêmios que vão colecionando, muito mais com o intuito de simplesmente te-los e exibi-los, que desfrutá-los. O desejo do poder, de ter forças e condições, de sentir-se dono da situação justifica a luta e as feridas no campo de batalha.
Outros, morbidamente temerosos de reconhecerem a Vida como o grande prêmio, e que mais dia, menos dia, terá que ser devolvido, exaurem-se montando esquemas de reservas, muitas vezes absurdos que, ao mesmo tempo que serve para distraí-los da ideia da efemeridade de tudo e de todos, é uma maneira de não viver o presente, mas sempre estar projetando para um futuro que, francamente, sempre será incerto.

Ter bom-senso, ser precavido, saber planejar, viver de acordo com as necessidades, ter autonomia e poder agir conforme o próprio discernimento, proporciona, sem dúvida alguma, a possibilidade de uma vida mais equilibrada e uma melhor harmonia entre os seus diferentes aspectos. Não há porque agir como o Louco, desarvoradamente, inconsequentemente, alienadamente, descompromissadamente. Esse é o lado oposto da gangorra onde deveríamos buscar equilibrar o Arcano 0, o Louco e o 4 de Ouros, pois entre o completo desapego e a dependência existe um mar de camadas, níveis, tonalidades e possibilidades.

Ao observar a imagem acima, que poderia ser interpretada como uma verdadeira luta em manter-se atado àquilo que normalmente acreditamos como bens que nos proporcionam segurança: dinheiro no banco, uma casa própria, um bom carro, ter alguma forma de poder sobre os demais, etc, o que mais atrai minha atenção é a maneira como o homem se vê e percebe os demais: todos os outros são adversários. Ele não se identifica com nenhum dos "times": nem com as pedras brancas, nem com as pretas. Ele sente-se único, o mais preparado, o mais inteligente, o que tem braços e mãos que lhe permitem agarrar aquilo que deseja. E ele que muito, ainda que repetido, em excesso. Ele quer tudo.




Vendo imagens como essa, ou como a criada por Pamela Colman Smith para o tarot do Waite, me ocorrem algumas frases bem populares como: "Caixão não tem gaveta" e "Quando se morre nada se leva". Na simplicidade e obviedade dessas expressões, existe uma verdade incontestável: nada levamos do que tivemos ou acumulamos "para tempos mais difíceis". Sem entrar no mérito e nem optar por nenhuma linha de pensamento que aborde alguma forma de vida (espiritual, racional, etc) após a morte, sabemos que nada nos acompanha, a não ser (talvez...) imagens, memórias, do que fomos. Nem sei se isso vai como bagagem, mas, com certeza, o carro importado, a conta na Suíça, o apartamento com vista para o mar, as jóias, o jatinho particular e o iate não embarcarão na mesma viagem. Entretanto, muitas vezes esquecemos (ou não queremos lembrar) disso tudo e nos acreditamos novos Tut-Ank-Amon e construímos um arsenal que poderá ser de alguma utilidade na vida após a vida.

Ter ambição e objetivos, buscar e desfrutar do conforto, poder viver a vida de maneira plena, com o mínimo de atribulações evitáveis, sentir-se capaz para realizar os desejos e satisfaze-los de forma harmoniosa é perfeitamente normal e traz dignidade a qualquer ser humano. O problema acontece quando alteramos os níveis dessa mesma ambição e nos tornamos prisioneiros dela.

Em ambas as imagens a figura demonstra enorme apego aquilo que possui. Tanto as moedas, na carta do 4 de Ouros, quanto os objetos que voam, na imagem principal, são, de alguma forma, extensão do corpo do homem. Numa, ele está imobilizado pelo peso dos mesmos. Noutra, ele luta para adquiri-los ou mante-los próximos.
Em ambas, o apego ao lado material da vida o domina. De alguma maneira, a desarmonia se estabelece e a vida fica limitada, para sempre, a um simples tabuleiro de xadrez.

Alex Tarólogo

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quarta-feira, 8 de junho de 2016

EMOÇÕES





EMOÇÕES

Finalmente encontro, na imagem do poster acima, retratada de forma mais positiva, a saída daquele estado de profunda decepção do 5 de Copas.

Se observarmos bem a carta de tarot abaixo, pintada por Pamela Colman Smith para o tarot concebido pelo Waite, o que mais chama a atenção é a soturna figura humana, totalmente coberta pela enorme capa do luto que dela se apossa quando da constatação que 3 taças estão partidas, a seus pés. Sendo o naipe de Copas aquele que representa nossos sentimentos (amor, ódio, arrependimento, decepção, tédio, alegria, pesar, amizade, etc), o líquido contido nessas taças é tão fluido, escorregadio e volátil quanto as emoções que representa.

A negra figura lamenta profundamente a perda sofrida. Provavelmente havia investido todas as suas esperanças afetivas em alguém que, ao final, a decepcionou. Sente-se só, abandonada, afastada do convívio social, inerte, sem vontade de tomar a iniciativa de cruzar novamente o rio de suas emoções, desta vez mais experiente e com a possibilidade de utilizar-se do artificio de uma ponte, e reintegrar-se ao convívio do seu grupo.




Tão profunda é a sua dor que o paralisa e impede que veja que outras taças estão à sua espera. Não consegue lembrar-se de que nem tudo foram perdas, e que momentos felizes também foram vividos. Não consegue perceber que outras oportunidades estão à sua espera, bastando que ele pare de lamentar-se por aquilo que já se perdeu e dê a si mesmo uma nova chance.

Observando a antiga publicidade de um bom vinho do Porto, não pude evitar comparar as duas figuras e imaginar que o homem do poster poderia ser o mesmo do 5 de Copas, só que restabelecido, novamente ativo, pronto para seguir viagem, proporcionar-se novos motivos para sentir-se feliz. Quero acreditar que, tendo vivido intensamente a sua dor, ele tenha, finalmente, sepultado os sentimentos mórbidos, fossem de culpa ou de auto-piedade, e, livre das amarras da frustração, do medo, da vergonha, tenha se voltado e encontrado as taças remanescentes.

A sensação de que tudo esta perdido, de que nada mais vale a pena, de que não teria mais coragem para recomeçar, tudo isso desaparece ao perceber que a fonte que abastece as taças é a nascente de um caudaloso rio. Consciente disso, segue em frente, carregando cuidadosamente como a um troféu, as emoções que ainda pretende viver.

Alex Tarólogo

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sexta-feira, 3 de junho de 2016

JULGAMENTO






JULGAMENTO

Pois é. Esse anjo, com asas de penas não tão alvas e apoiado num caduceu, mais parece um Hermes "grunge" do que a séria e bem mais celestial figura do ser alado do tarot de Marseille. Hermes ou Gabriel, não importa, ambos são anunciadores de que algo importante está acontecendo.

A carta do Arcano XX, o Julgamento, remete `a ideia que fazemos do Julgamento Final, aquele prenúncio cristão do fim dos tempos, quando os mortos ressuscitarão para serem, junto aos vivos, julgados. Esse divino tribunal decidirá quem irá sentar-se junto ao Deus Criador e os demais, os infelizes que amargarão a eternidade no fogo dos infernos. As sentenças, naturalmente, dependerão exclusivamente de como cada um conduziu-se em sua existência terrena.

No tarot esse "julgamento" é pessoal, diferente daquele absolutamente racional proposto pela carta da Justiça. Neste, as variantes, a condição cármica de cada indivíduo é considerada e influenciará no resultado. É uma revisão da vida, considerando-se o processo e o grau de desenvolvimento obtido através das escolhas realizadas, das transformações sofridas e do percurso percorrido até o momento atual. Sim, porque, para o tarot, não há que se esperar pelo fim dos tempos para reavaliar-se. Esse exercício do acompanhamento do amadurecimento, em todos os sentidos da existência, é algo que pode ser feito a qualquer tempo.

Reavaliar, revisar, repensar, rever, reconsiderar, refletir, recuperar, são verbos intimamente ligados ao Julgamento proposto pelo Arcano XX. É olhar para traz e ver como foi o desenrolar da própria história. Consiste em levar em consideração que qualquer processo evolutivo implica numa melhoria, num lapidar, numa mutação para algo melhor, mais adequado, melhor preparado e adaptado. Considera-se, nesse tribunal, todos os atos praticados e, naturalmente, todas as conseqüências.

De quando em quando o anjo mensageiro se faz ouvir na labiríntica consciência de cada um de nós. Assim como as trombetas lembram os muçulmanos que é hora de orar e, portanto, elevar o pensamento além das fronteiras do aspecto material da vida, o Arcano XX alerta que é chegado o tempo de refletir se o percurso está correto. Se fazemos uma revisão veicular para nos garantirmos de que o carro está em condições de enfrentar as distancias e possíveis problemas da viagem, por que não fazer essa mesma "revisão" com a nossa pessoa? Por que não nos assegurarmos que estamos com os instrumentos certos, a experiência e o preparo necessários para continuarmos nosso caminhar, reavaliando o nosso trajeto e como foi o nosso desempenho até aqui?




Voltando a observar os detalhes da figura no alto desta página, é muito fácil perceber que todos os seres humanos são representados pelo mesmo personagem encapuzado, porém em situações distintas, como se na ilustração encontrássemos todos os momentos, até a presente data, da vida desse personagem. É como se fosse um filme da sua vida, porém num único fotograma, onde todas as suas acoes pudessem ser vistas ao mesmo tempo e em conexão com as demais. Diferente da ideia da Justiça humana, que considera nossos atos de forma mais compartimentada, no Julgamento o processo da existência é visto como um todo.

O gato que se enrosca aos pés do anjo pode muito bem estar representando a ressurreição, o voltar novamente `a vida plena, que é concedido a cada um que permite-se ouvir a voz da consciência, ou, mas literariamente, o chamado do anjo. Afinal, como diz o dito popular, 7 vidas tem os gatos. Disse Jesus a Pedro, de acordo com os evangelhos, que dever-se-ia perdoar(-se) 7 vezes 7, zerando a cada vez a culpa dos erros passados exatamente porque nos reconhecemos, confessionalmente, estarmos arrependidos, comprometendo-nos moralmente nunca mais comete-los e nos utilizarmos dessa experiência como um salto qualitativo em nosso crescimento espiritual.

Hermes, mensageiro dos deuses, ou Gabriel, o porta-voz de Deus, não faz nenhuma diferença, pois o que importa, em verdade, é que sejamos capazes de, ouvindo o sinal de alerta, sermos, nós mesmos, juízes dos nossos atos e intenções. Importante seria deixarmos de lado a fria e implacável espada da Justiça humana e podermos, reconhecendo nossas falhas, nos perdoar e renascer para uma nova chance, uma nova etapa, uma outra oportunidade de vida sob os auspiciosos e acolhedores raios de luz emanados dos céus. O final dos tempos ocorre a todo instante, pois o momento seguinte é sempre de renovação. O que chamamos de amanhã, de futuro, acontece no instante seguinte em que eu termino de digitar esta palavra. O Julgamento é um chamado `a consciência para que nos lembremos que renascer é uma constante necessária no longo processo da nossa evolução espiritual.

Alex Tarólogo

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segunda-feira, 30 de maio de 2016

SEM SAÍDA




ENROLADO

Encontro um amigo e, quando pergunto como vai, ele responde com um "Enrolado, sabe como é...". Uma aluna me liga dizendo que não poderá vir à aula de hoje porque está "toda enrolada, com hóspedes em casa, filhos retornando às aulas, sem cabeça pra nada...". Um amigo de muito tempo, recém separado, passa para contar que está com a situação amorosa novamente "enrolada". Daí então me deparo com a foto acima e começo a rir, sozinho, substituindo mentalmente a figura atada ao novelo pelos meus interlocutores.

Quantas e quantas vezes vivemos situações em que nos sentimos completamente envolvidos, "enrolados" com dificuldades em optar,  por estarmos vivendo contradições, estarmos sofrendo com pequenas ou grandes mentiras, ou com o acúmulo de assuntos pendentes, ou pelas cobranças feitas por esposa, filhos, funcionários, chefes, amigos, clientes, etc? Creio que todos, em algum momento, tenham vivido esse sentimento de incapacidade em encontrar soluções razoáveis para os desafios que enfrentavam.


A expressão "enrolado" bem define o grau de envolvimento em que a "vítima" se acha na situação, bem como ela se percebe de mãos e pés atados (e isso é outra expressão com o mesmo significado), impedida de retirar a venda da ignorância e da duvida, que a impedem de ver claramente o problema como um todo e suas partes constituintes. Assim sendo, tateia, às escuras, impedida de evoluir e agir. Sem ação, devido às cordas que lhe prendem os braços e as mãos, não há como desembaraçar-se e caminhar para um resultado satisfatório.

Enrolado está o rapaz que vai-se comprometendo cada vez mais com a namorada, fazendo-lhe promessas e, ao mesmo tempo, mortificado em ter que abandonar a tal liberdade da vida de solteiro. Enrolada está a pessoa que inventa mentiras "inocentes" para justificar erros que, ela bem sabe, estão sendo descobertos. Enrolado está aquele que comprometeu seu salário, economias e bom-senso gastando o que tinha e o que tinha esperanças em vir a ter, para satisfazer, momentaneamente, o ego e dar uma festa nababesca a um enorme grupo de amigos.
Enrolados nos sentimos, todos, quando perdemos a coragem, quando criamos fantasias mórbidas que nos fazem frágeis e temerosos de tudo e de todos, petrificados de terror diante da vida.

O melhor de tudo é reconhecer que essa situação não nos foi imposta, mas criadas por nós mesmos. Portanto o fio da meada que nos enrola está em nossas mãos, ou melhor, em nosso aspecto racional. Basta que deixemos o pânico de lado, olhemos a situação criteriosamente, da maneira mais objetiva e analítica possível, recuperemos a razão e o equilíbrio, e reorganizemos planos e ações efetivas que nos libertem da teia de enganos, fantasias e confusões que criamos.

Assim, "desenrolados", poderemos corajosamente enfrentar e resolver, com precisão, as pendências e evoluirmos, em busca de melhores dias.

Alex Tarólogo

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