segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

O TIRO PELA CULATRA





O TIRO PELA CULATRA
Uma importante companhia italiana, que produz máquinas para fazer café expresso, destaca-se pela qualidade e criatividade das suas campanhas publicitárias. Há algum tempo lançaram uma em que associavam seu produto aos heróis das histórias em quadrinhos. A que usei como ilustração traz a Mulher-Gato, das histórias do Batman, surpreendida por um... gato! E, pela atitude de ambos, a surpresa, além de naturalmente inesperada, é bastante ameaçadora.
Ela, que certamente havia invadido o território do felino, busca esconder-se, até encontrar uma saída para a situação, usando uma xícara de fumegante café como escudo. O gato verdadeiro, por sua vez, tem como vantagem o tamanho e o fato de ter conseguido surpreender a presa antes que ela o percebesse e fugisse.
A situação toda transpira à tensão, constrangimento, expectativa, argúcia e espanto. A Mulher-Gato parece sobressaltada com a presença do animal. Ele, por sua vez, mantém a postura de ataque, o olhar concentrado e quase hipnótico e uma falsa serenidade, tão própria de quem está acostumado a caçar, utilizando-se de armadilhas e estratégias para conseguir seu intento.



No tarot, o 7 de Espadas pintado por Pamela Coleman Smith remete ao mesmo conceito imagético que a imagem acima busca retratar: um indivíduo bastante estranho, com uma atitude ladina, carrega 5 espadas, removidas, provavelmente, de uma tenda. Sua intenção parece ser a de desarmar o inimigo, entretanto seu plano parece fadado ao insucesso, visto não ter conseguido carregar todas as espadas. Pior é que uma delas, das deixadas para trás, poderá ser usada pelo seu oponente, por aquele que foi tapeado, iludido, roubado, para ferir mortalmente o incompetente ladrão.
O que chama a atenção nas duas imagens que ilustram este texto, e cuja realização os separa por um século, é o fato que, tanto ao ladrão de espadas quanto à Mulher -Gato, faltaram disciplina e planejamento. A atitude de ambos é claramente amadorística, desorganizada, deixando-os desprevenidos, sem um plano-B, sem um contra-ataque preparado. Ambos foram impetuosos e inconseqüentes.
Essa carta simboliza uma forma de esperteza que costuma resultar num "tiro pela culatra". Ao invés de usar o cérebro (naipe de Espadas) para resolver determinada situação, a pessoa opta pela "lei do menor esforço", agindo intempestivamente, desprogramada, contentando-se com os sofríveis resultados das tentativas, ao invés de investir na solidez e garantia da obtenção da totalidade do produto final.

A atitude da figura na carta do tarot é bastante suspeita, favorecendo uma imagem de corrupção, de espionagem, mentira, intriga, que pode ser utilizado para justificar a simbologia desse arcano menor. De qualquer forma, fica claro que o sucesso da empreitada é, tão somente, parcial pois ele não consegue se apossar de tudo o que pretendia.
Na fotografia maior, nem mesmo a esperteza, habilidade, e destreza da Mulher-Gato a fazem imune ao plano descuidado que utilizou para surrupiar o que lhe interessava. Ainda que buscasse ocultar-se atrás da xícara, sua tática não resultou em bons resultados e, muito provavelmente, cairá na armadilha que ela mesma armou.
Num outro ponto de vista, provavelmente o do gato e das pessoas que tiveram suas espadas roubadas, o 7 de Espadas nos lembra de não permitirmos que obtenham vantagens injustas sobre nós. Alerta para que se cuide daquilo que se possui, de se manter firme em suas convicções e não fazer aquilo no que não se acredita. O que não se deve subestimar é que a desconfiança e a manutenção de segredos, quando exagerada, pode conduzir muito mais ao isolamento do que à um possível ideal de segurança.
Precaver-se não significa tornar-se paranóico.

Alex Tarólogo

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