Desde a primeira vez que vi essa foto associei-a àquela imagem do 7 de Copas, criada pela Pamela Smith para o Tarot do Waite.
Independente de todos os possíveis significados, inclusive alguns bastante divergentes, atribuídos à carta, ela sempre me pareceu a fotografia de alguém frente a uma vitrine, dessas das grandes lojas. Literalmente hipnotizado pelas possibilidades de ofertas, a figura central está alheia a nós que o observamos, e ao mundo. A sensação que essa imagem sempre me passou é a de alguém vivendo um momento de absoluta entrega aos prazeres do consumismo, das fantasiosas possibilidades que a propaganda e a publicidade criam e que nos convencem a querermos ter. É aquele momento em que nos perguntamos: "como é que eu pude viver sem isso até hoje???
Consumir além do necessário, pode ser viciante. Não, eu não faço parte daquele grupo que acredita pia e entusiasticamente que devemos nos contentar com pouco, não adquirir, nem almejar, aquilo do qual não temos a mais imediata necessidade, e desconfiarmos de tudo o que a publicidade, tida como a máquina que movimenta a economia, nos empurra garganta abaixo.
Mas também, claro que sei que há limite para tudo e que nunca se deve comprometer o que não se tem para ter-se o que se quer, por capricho. Não irei fazer aquela apologia do "gaste agora, compre tudo o que quiser. Depois a gente dá um jeito". Obviamente, não. Mas também não fiz voto de pobreza e nem pertenço a uma ordem trapista. Os recursos do novo celular, a ser lançado para o Natal, já me faz olhar para o meu, como uma relíquia de 6 meses de idade...
As tentações possuem tentáculos. Obvio, não é mesmo? Assim elas nos arrebatam da nossa pacifica, e maçante vidinha comum e nos transportam para uma aventura digna de best-sellers e filmes de ação. Subjugam nossa vontade, ignoram qualquer lógica ou razão, e nos seduzem com a idéia de que seremos totalmente felizes se adquirirmos tudo o que quisermos, encontrarmos prazer com qualquer um, formos reconhecidos e bajulados por aquilo que temos e fazemos absoluta questão em exibir, naturalmente.
E, por que não por aquilo que somos ?, poderão me perguntar. Porque, em diversas situações, o que realmente somos deixou de existir, cedendo lugar a um ser movido exclusivamente por sensações, ilusões, fantasias, paixões, desejos e poderes temporários, de brevíssima duração. Eternamente insatisfeitos, sempre sentindo um vazio não identificável, vamos nos deixando arrastar, iludidos de que ainda temos algum controle sobre nossa vontade, nossos impulsos.
Na melhor das hipóteses, conseguimos a custo de muito sofrimento, e com o apoio de familiares, amigos e profissionais, nos libertar da compulsão de cedermos aos nossos instintos menos apreciáveis, aos nossos devaneios mais absurdos, aos nossos mais deploráveis vícios. Grupos de apoio existem e são eficazes nesse momento. Não é covardia e nem pouca auto-estima, reconhecer-se fraco, carente e dependente. Ao contrário, é preciso ser muito lúcido, para tanto. Ninguém vence todas as armadilhas que fazem do viver, especialmente sob o peso da observação, crítica e jugo social, uma arte.
Olhe bem para o simpático polvo (há muito tempo o Diabo deixou de lado o aspecto monstruoso e o aroma de enxofre...) no topo desta página, tão cheio de ofertas, de possibilidades, de pequenas e atraentes fantasias. Optar por qualquer delas pode resultar em ter de lutar pela própria vida, no fundo de um mar... de dívidas!
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