Essa imagem parece-me uma releitura daquela criada para representar o 9 de Ouros do Tarot Rider-Waite-Smith. Uma mulher solitária, numa paisagem impressionante, tendo como única companhia o seu falcão.
A figura acima, menos rebuscada, e contra um cenário montanhoso é a expressão da mensagem embutida nessa carta do Tarot: a satisfação de ter atingido a um patamar de desenvolvimento pretendido e estar em perfeita harmonia com o ambiente e consigo mesmo.
Aquele leão da carta da Força, aceito, compreendido e controlado, agora reaparece na plumagem dessa ave caçadora, pronta para executar o que seus instintos a induzem, porém sob total controle de sua dona. Se com o leão a forca era muito mais primária, física, terrena, agora o céu é o limite. Os voos são rápidos, os movimentos precisos, os olhos aguçados, a visão muito mais abrangente, de 360º, as garras fortes. Persegue seus objetivos com equilíbrio e tenacidade, de maneira clara, holística.
A montanha, representação de grandes interesses e objetivos, de poderio, superioridade e acúmulo de reservas, também pode simbolizar um obstáculo, em sua frieza, e necessita de coragem, determinação, competência e planejamento para ser escalada. Só mesmo a uma inabalável determinação faz com que o alpinista a conquiste e finque nela sua bandeira, deixando sua marca pessoal.
Pode-se, simplesmente apreciando a foto, ouvir os ventos que sopram nas grandes alturas, onde a solitária caçadora sente-se à vontade. Ela se basta. Não necessita de nada ou ninguém para lembrar-se de quem é, do que deseja e o que já conquistou. Seus objetivos ela mesma os constrói.
O 9 de Ouros pode levar à uma enganada interpretação de "solidão, apesar de ter tudo o que quer". Isso é, antes de mais nada confundir os significados de ser solitário e estar só.
Existem milhões e milhões de pessoas solitárias neste planeta e que vivem mendigando a atenção, a companhia e o amor do outro para poderem aceitar-se a si próprias. Sem o "selo de qualidade" dado pelo outro, elas se sente rejeitadas, menores, incompletas, desvalorizadas. Ficam aterrorizadas quando estão consigo mesmas pois, afinal, não sabem o que fazer de si próprias.
Outras existem, e esse é o caso da personagem que estampa o 9 de Ouros, que estão de bem com a vida e consigo mesmas. Podem ter feito escolhas pessoais que as isolaram, em parte, do convívio mais íntimo, mas foram escolhas pensadas, que produziram os resultados esperados e das quais nada têm a reclamar. Podem estar, em maior ou menor grau, solitárias, mas não padecem de solidão. Estão em perfeita harmonia com seus desejos, pretensões, vontades, esperanças, crenças e conquistas. Gostam de si mesmas, não de maneira ególatra, mas por terem agido de acordo com seus interesses e princípios, enfrentado as dificuldades de maneira sóbria, racional, usando de seus conhecimentos e se utilizando de cada obstáculo como a um degrau a mais em sua escalada. Não se isolam, mas também estão cientes que, em seu percurso, tornaram-se mais exigentes. Aprenderam a sere mais seletivas e sabem diferenciar e priorizar "qualidade" de "quantidade". Não buscam companhia para compartilhar solidão a dois, mas para poderem evoluir, cada um à sua maneira, respeitando-se, não usando o outro e nem se deixando usar.
Evoluída, seus instintos a retiram da primitiva luta pelo domínio e sobrevivência e a trazem ao mais alto, ao mais espiritual que a civilização consegue conceber, perceber, experimentar e ambicionar. Ela não necessita mais preocupar-se com aquilo que só representa acumulo material, até mesmo porque esse é um estágio que ela já viveu. Ocupa-se agora em usar das suas posses para causas mais amplas, mais elevadas, menos particulares. E, para tanto, usa seus instintos, na forma de seu fiel escudeiro, o falcão, para subir ao mais alto, e, de lá de cima, encontrar uma maneira de retribuir o tudo que lhe foi concedido.
Alex Tarólogo
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