quarta-feira, 30 de março de 2016

TRÉGUA


 

A pausa que refresca”. Esse sempre foi um dos slogans da Coca-Cola, essa marca de refrigerante que dominou o mundo através de uma maciça, criativa, popular, e sem data para terminar, campanha publicitária. Enfim, há que se reconhecer que uma simples receita de um “tônico” tenha evoluído para uma das marcas mais valiosas e, como bebida, tenha atingido e agradado a tantos, em todas as regiões do globo.
Mas o que mais me agrada na publicidade acima é a frase que a acompanha e justifica a imagem que a ilustra. A dona de casa, entre tantos afazeres domésticos, concede-se alguns momentos de distanciamento de suas obrigações e dedica-se a saborear... o dia, o tempo que passa, as imagens que surgem em sua mente, a satisfação de estar ali, presente, vivendo aquele momento sem expectativas ou ansiedades. É um momento de recuperação, de restauro das energias. Hora de recarregar as baterias. Um intervalo entre uma e outras atividades.





O cowboy deitado no meio do campo, com 4 espadas pendentes sobre si, em muito se assemelha à mulher da figura no alto desta página: dando um tempo entre tarefas a serem cumpridas, obstáculos a serem vencidos, planos a serem pensados, problemas a serem resolvidos, assuntos a serem discutidos, decisões a serem tomadas.

Ainda que ele não faça uso do estimulante e gaseificado frescor do refrigerante, ele busca o tranquilo e silencioso ambiente do claustro para isolar-se, momentaneamente, e repor as energias que lhe serão necessárias para solucionar todas as pendências. Creio que, cada um à sua maneira, encontrou uma forma de desestressar-se no transcorrer da execução de suas obrigações e compromissos. Inúmeras vezes nos vemos “bombardeados” com uma sucessão de problemas a serem resolvidos, de atividades a serem cumpridas, e acabamos por resolver tudo às custas de muito esforço e sacrifício, terminando esgotados e sem nenhuma satisfação com todo o processo. Noutras, nos atrapalhamos na execução dos mesmos e não os completamos ou, pior, os fazemos mal feitos devido à impossibilidade de nos concentrarmos num só a cada vez. Em todos os casos, saímos decepcionados e vencidos, com uma sensação de amarga sensação de incapacidade.

Entretanto, o que a carta do 4 de Espadas do tarot simboliza é a busca de uma estabilidade pessoal, de um equilíbrio, de uma harmonia interior. O guerreiro está deitado numa perfeita horizontalidade, perfeitamente apoiado à pedra que o suporta. Sua posição é formal, equilibrada, porém tranquila. A espada que está sob seu corpo pode estar sugerindo que, entre os problemas a serem pensados e resolvidos, alguns já foram solucionados, enquanto que outros aguardam, seu retorno à ativa, para serem avaliados e resolvidos.

Saber o momento de fazer uma trégua na luta diária, consciente que tudo poderá ser melhor esclarecido, analisado e executado se estivermos no melhor do nosso desempenho físico, mental e emocional, é um bom pressuposto para ações vitoriosas.
Há quem para tudo e vai dar uma breve caminhada; outros relaxam por alguns minutos ouvindo música; alguns leem um poema ou mais um capítulo de um livro; há quem prefira meditar. Qualquer que seja o método usado, o importante é aproveitar esses momentos para desviar a atenção do assunto em questão e procurar reencontrar o equilíbrio perdido. 
Para “cabeça quente” nada melhor que uma pausa refrescante.


Alex Tarólogo

http://simboloseimagens.blogspot.com
http://alextarologo.blogspot.com
http://petitlenormand.blogspot.com

terça-feira, 22 de março de 2016

RUÍNA



 
Essa foto do filme “M, o Vampiro” (1931), uma das obras primas do Expressionismo alemão do diretor Fritz Lang, mostra o momento em que o personagem principal do filme, um serial-killer, é identificado pela população.
Os dedos acusadores, incriminando o suspeito, tornam ainda mais evidente a expressão de total desamparo e desespero do ator Peter Lorre. O “vampiro” foi, finalmente, após uma trilha de crimes cometidos contra as crianças de Dusseldorf, desmascarado. Em seu rosto, um rictus de horror que muito revela sobre seu caráter, como da tomada de consciência das consequências de seus atos.
Não mais mentiras, disfarces, subterfúgios. A hora da verdade é chegada. Esse assassino pode ter enganado a muitos, durante muito tempo e isso pode te-lo transformado num arrogante matador. Entretanto, mesmo que tardia, a verdade é algo da qual não podemos escapar totalmente e, no caso desse personagem, a foto acima retrata a sua queda.
Nada mais poderá salvá-lo. Todas as suspeitas se confirmaram e provas concretas foram coletadas. Não há mais condições para álibis ou novas mentiras. O rastro de seus crimes e o acreditar-se mais esperto e inteligente que todos os demais, foram a sua própria armadilha. Agora é o momento em que o Ego é reduzido à nada.



A pintora Pamela Colman Smith, no começo do século passado, criou uma imagem muito dramática para a carta 10 de Espadas do tarot do Waite. Nela, uma figura humana está prostrada ao chão com 10 espadas cravadas em suas costas. É a morte moral, do respeito e aceitação sociais, do orgulho, do Ego. É o fim. Há que reconhecer ter perdido todas as batalhas, ter sido vencido em todas as suas tentativas de impor-se. Não há outra saída a não ser entregar-se, reconhecer a derrota e, como nada mais há para perder, recomeçar a construir-se, agora sem ilusões, sem fraquezas, sem preconceitos, com novas crenças e valores.

O “vampiro”, também, foi derrotado pela luz, pela claridade e transparência da verdade. Seus atos escusos foram expostos, inclusive a si próprio. Ele, que os cometia protegido dos outros, e da sua consciência, nas sombras da noite, tem nos dedos acusadores que apontam em sua direção como que raios de luz a revelar-lhe o quão errado estivera até então. É chegado o tempo de sofrer as consequências dos erros cometidos, resignar-se, curvar-se diante das evidências e, na medida do possível, reerguer-se, regenerar-se, curar suas feridas.
Ambas as figuras, tanto no fotograma do filme quanto na carta, estão sem saída. Um está “contra a parede”; o outro, “derrubado”. Os dois: vencidos, derrotados.
O que cada um foi ou representou, acreditou ou cometeu, está morto e, como tal, dá lugar para o novo. Pior do que está, não vai ficar. É o “fundo do poço” e, como tal, só lhes sobra subir pois, descer mais, é impossível.

Alex Tarólogo

http://simboloseimagens.blogspot.com
http://alextarologo.blogspot.com
http://petitlenormand.blogspot.com

segunda-feira, 14 de março de 2016

DERROTA




DERROTA
O fotógrafo conseguiu, nesse "tableau vivant", elaborada montagem que nos remete aos frisos dos chamados "arcos do triunfo", portais comemorativos às batalhas vencidas e aos feitos de seus soberanos e heróis, passar as mesmas qualidades de tirania, opressão, ameaça, rixa, desavenças, maus tratos, desonra, degradação e medo que encontramos nos significados da carta 5 de Espadas, no tarot.
Os personagens da cena ou estão exercendo um poder de coerção, subjugando os demais, destituindo-lhes de toda a dignidade e capacidade de resistência, ameaçando-os de extinção, ou então, são as vítimas, escorraçadas em seus cantos, depostas de sua valentia e orgulho, temerosas com os acontecimentos, desistindo de lutar o bom combate.

Todas essas características as vemos replicadas na imagem criada por Pamela Colman Smith para o 5 de Espadas encomendado pelo ocultista Arthur Edward Waite para o seu tarot.
Em primeiro plano, um homem, com olhar irônico, segura 3 espadas, enquanto 2 se encontram caídas ao chão, como se lá estivessem abandonadas pelas outras duas figuras masculinas que se afastam, em direção ao mar. Nuvens cinzentas, ameaçadoras em seu formato pouco ortodoxo, cobrem o céu.




Esse é o tipo de carta que tanto pode ser aplicada, em seus significados, ao vencedor, como ao vencido. Ambos, afinal, estão vivendo o mesmo tipo de conflito. Assim como ela pode representar um momento em que estamos sós, sem ninguém para nos ajudar, num momento de derrota e humilhação, sentindo-nos fracos, abatidos, sentimentalmente derrotados, espiritualmente combalidos, essa carta também pode referir-se ao fato de estarmos na posição daquele que busca dominar, magoar, desestabilizar e finalmente destruir o outro. Encontramos esse tipo naquele que faz questão em ser um "Cruzado" de alguma causa, crença ou ideologia, sempre procurando, de todas as maneiras, impor sua "verdade" aos outros.

De qualquer forma, essa derrota deveria ser aceita de forma passiva, corajosamente, sem luta, sem rancor e com paciência, pois é algo que temos que viver, do qual não podemos fugir. Faz parte do nosso destino e, muitas vezes, é o resultado de atitudes ou hábitos auto-destrutivos, ou mesmo da falta de pensar melhor nas possíveis consequências que esses atos acarretam. Somos, em diversas ocasiões, motivados por simples falta de bom senso e humildade, a enfrentar batalhas já de antemão perdidas, de onde sairemos feridos, traumatizados, unicamente porque não soubemos aceitar nossas próprias limitações, reduzir o orgulho, desinflar o ego e desistir da luta.

E o que resta no campo de batalha, após essa luta onde todos, no fundo, são perdedores? Mágoas profundas, extensas cicatrizes, pensamentos mórbidos, sentimentos derrotistas, medo de tentar novamente e uma grande incerteza sobre o futuro.

Alex Tarólogo

http://simboloseimagens.blogspot.com
http://alextarologo.blogspot.com
http://petitlenormand.blogspot.com

quarta-feira, 9 de março de 2016

SOFRIMENTO





Não há dúvidas, olhando a foto acima, sobre o tipo de sentimento que essa imagem busca expressar. Há, nesse coração preso a um velho poste por voltas de arames farpados, um retrato de dor, sofrimento, arrependimento, desilusão. Tal qual a coroa de espinhos sobre a fronte do Cristo, esses pontiagudos pedaços de metal não só aprisionam e ferem impiedosamente, mas desqualificam o valor do sentimento representado pelo rubro coração.
Essa imagem em muito se assemelha à do 3 de Espadas, uma carta que quase sempre prenuncia tempos bastante sofridos e pesarosos, onde mágoas e lágrimas costumam juntar-se a sentimentos bastante funestos em relação à vida. Como todas as demais cartas do naipe de Espadas, o aspecto que tratam é a nossa mente racional, nossa capacidade de observar, dissecar, analisar e chegar a um resultado. É a lógica, a razão, o aspecto matemático, científico, a capacidade de julgar e tirar conclusões. E, na carta de número 3 desse naipe, temos a clássica ilustração de Pamela Smith para o tarot de Waite, onde 3 espadas atravessam um coração que flutua sob a chuva que cai de cinzentas nuvens. Quadro bastante desolador...







Oracularmente, o 3 de Espadas prenuncia tempos de grandes desapontamentos, de sentimentos de pesar dignos, em sua exaltação, aos mais trágicos libretos operísticos. Há algo de profundamente melodramático nessa carta. Pode, inclusive, ser uma grande desculpa para não encarar a vida de frente, limitando-se ao romântico e operístico papel do amante enlutado.
As espadas cravadas no coração simbolizam que a perspectiva que estamos tendo da situação é enganosa, pois filtra os reais aspectos lógicos e racionais pelo âmbito turbulento, e nem sempre transparente, das emoções.

No século XVIII, o poeta inglês Leigh Hunt escreveu algo que muito bem descreve esse estado de alma:



"Afeto, igual à melancolia, aumenta insignificâncias; o primeiro vê corpos celestiais por um telescópio; o segundo vê monstros por um microscópio."

Alex Tarólogo

http://simboloseimagens.blogspot.com
http://arcanosmaioresdotarot.blogspot.com

sexta-feira, 4 de março de 2016

CORAGEM





CORAGEM

Dois contra uma multidão. Poucas vezes vi uma foto que, de forma tão eloquente, fizesse uma referencia ao 7 de Paus, carta do tarot.
Ainda que a imagem clássica, e em especial a criada pela artista Pamela Colman Smith para as cartas do tarot do Waite, registre unicamente a figura de um homem, no alto de uma colina, ou de qualquer outra posição elevada, defendendo-se, ou brandindo, com um bastão contra outros 6 que, mais abaixo, o ameaçam. Essa composição fala por si: defender seus pontos de vista, seus objetivos, suas crenças, sua vontade, não temendo a confrontação. O fato da artista ter pintado a figura num plano mais elevado carrega a mensagem de que ele está em melhor condições de defender seus argumentos e interesses frente aos demais. Já se encontra num patamar mais alto, já atingiu um nível de sabedoria e força de vontade maior que os outros que o ameaçam.




Essa carta traz consigo uma mensagem bastante positiva que incita a quem a recebe, ou nela medita, a defender confiantemente seus atos, seus motivos, seu estilo de vida, sua filosofia e aquilo no que acredita. Para tanto, faz-se necessário analisar detalhadamente seus objetivos e as estratégias empregadas para alcançá-los, corrigindo possíveis enganos, reavaliando prováveis resultados. Isso requer disciplina, autoconfiança e coragem, lembrando que coragem e medo andam de mãos dadas. O medo desestabiliza, roubando-nos a certeza da nossa capacidade e habilidade. Ignorá-lo não é uma solução sábia, pois nos deixa impossibilitados de o observarmos com suficiente clareza e imparcialidade para que possamos melhor avaliá-lo.

Na imagem no alto da página apenas 2 homens conseguem, sem aparentar nenhum esforço sobre-humano, conter centenas de pessoas que buscam ultrapassar os portões do que, supostamente, aparenta ser uma grande construção. Sem entrar no mérito do que as levou a optar por essa tentativa de invasão, o que importa é a imagem em si, que tão bem dialoga com a, já comentada, 7 de Paus.
Talvez a maioria das pessoas se acovardasse diante dessa turba, cuja força física, pela lógica, em muito supera a das 2 solitárias figuras que os enfrenta. Mas basta olhar a foto atentamente para ver que eles dois estão em posição vantajosa, apesar de tudo. Protegidos pelos muros e altos portões, que metaforicamente abrigam seus interesses, desejos, intenções, sentimentos, eles retiram suas forças da crença em seus valores pessoais e na constância de seus esforços.
Seguros de si e firmes frente o desafio, a vitória fica assegurada.

Alex Tarólogo

http://simboloseimagens.blogspot.com
http://alextarologo.blogspot.com
http://petitlenormand.blogspot.com