quarta-feira, 17 de agosto de 2016

AUTONOMIA




Essa imagem parece-me uma releitura daquela criada para representar o 9 de Ouros do Tarot Rider-Waite-Smith. Uma mulher solitária, numa paisagem impressionante, tendo como única companhia o seu falcão.

A figura acima, menos rebuscada, e contra um cenário montanhoso é a expressão da mensagem embutida nessa carta do Tarot: a satisfação de ter atingido a um patamar de desenvolvimento pretendido e estar em perfeita harmonia com o ambiente e consigo mesmo.

Aquele leão da carta da Força, aceito, compreendido e controlado, agora reaparece na plumagem dessa ave caçadora, pronta para executar o que seus instintos a induzem, porém sob total controle de sua dona. Se com o leão a forca era muito mais primária, física, terrena, agora o céu é o limite. Os voos são rápidos, os movimentos precisos, os olhos aguçados, a visão muito mais abrangente, de 360º, as garras fortes. Persegue seus objetivos com equilíbrio e tenacidade, de maneira clara, holística.

A montanha, representação de grandes interesses e objetivos, de poderio, superioridade e acúmulo de reservas, também pode simbolizar um obstáculo, em sua frieza,  e necessita de coragem, determinação, competência e planejamento para ser escalada. Só mesmo a uma inabalável determinação faz com que o alpinista a conquiste e finque nela sua bandeira, deixando sua marca pessoal.

Pode-se, simplesmente apreciando a foto, ouvir os ventos que sopram nas grandes alturas, onde a solitária caçadora sente-se à vontade. Ela se basta. Não necessita de nada ou ninguém para lembrar-se de quem é, do que deseja e o que já conquistou. Seus objetivos ela mesma os constrói.



O 9 de Ouros pode levar à uma enganada interpretação de "solidão, apesar de ter tudo o que quer". Isso é, antes de mais nada confundir os significados de ser solitário e estar só.
Existem milhões e milhões de pessoas solitárias neste planeta e que vivem mendigando a atenção, a companhia e o amor do outro para poderem aceitar-se a si próprias. Sem o "selo de qualidade" dado pelo outro, elas se sente rejeitadas, menores, incompletas, desvalorizadas. Ficam aterrorizadas quando estão consigo mesmas pois, afinal, não sabem o que fazer de si próprias.

Outras existem, e esse é o caso da personagem que estampa o 9 de Ouros, que estão de bem com a vida e consigo mesmas. Podem ter feito escolhas pessoais que as isolaram, em parte, do convívio mais íntimo, mas foram escolhas pensadas, que produziram os resultados esperados e das quais nada têm a reclamar. Podem estar, em maior ou menor grau, solitárias, mas não padecem de solidão. Estão em perfeita harmonia com seus desejos, pretensões, vontades, esperanças, crenças e conquistas. Gostam de si mesmas, não de maneira ególatra, mas por terem agido de acordo com seus interesses e princípios, enfrentado as dificuldades de maneira sóbria, racional, usando de seus conhecimentos e se utilizando de cada obstáculo como a um degrau a mais em sua escalada. Não se isolam, mas também estão cientes que, em seu percurso, tornaram-se mais exigentes. Aprenderam a sere mais seletivas e sabem diferenciar e priorizar "qualidade" de "quantidade". Não buscam companhia para compartilhar solidão a dois, mas para poderem evoluir, cada um à sua maneira, respeitando-se, não usando o outro e nem se deixando usar.

Evoluída, seus instintos a retiram da primitiva luta pelo domínio e sobrevivência e a trazem ao mais alto, ao mais espiritual que a civilização consegue conceber, perceber, experimentar e ambicionar. Ela não necessita mais preocupar-se com aquilo que só representa acumulo material, até mesmo porque esse é um estágio que ela já viveu. Ocupa-se agora em usar das suas posses para causas mais amplas, mais elevadas, menos particulares. E, para tanto, usa seus instintos, na forma de seu fiel escudeiro, o falcão, para subir ao mais alto, e, de lá de cima, encontrar uma maneira de retribuir o tudo que lhe foi concedido.

Alex Tarólogo
http://simboloseimagens.blogspot.com

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

AS TENTAÇÕES



Desde a primeira vez que vi essa foto associei-a àquela imagem do 7 de Copas, criada pela Pamela Smith para o Tarot do Waite.

Independente de todos os possíveis significados, inclusive alguns bastante divergentes, atribuídos à carta, ela sempre me pareceu a fotografia de alguém frente a uma vitrine, dessas das grandes lojas. Literalmente hipnotizado pelas possibilidades de ofertas, a figura central está alheia a nós que o observamos, e ao mundo. A sensação que essa imagem sempre me passou é a de alguém vivendo um momento de absoluta entrega aos prazeres do consumismo, das fantasiosas possibilidades que a propaganda e a publicidade criam e que nos convencem a querermos ter. É aquele momento em que nos perguntamos: "como é que eu pude viver sem isso até hoje???


Consumir além do necessário, pode ser viciante. Não, eu não faço parte daquele grupo que acredita pia e entusiasticamente que devemos nos contentar com pouco, não adquirir, nem almejar, aquilo do qual não temos a mais imediata necessidade, e desconfiarmos de tudo o que a publicidade, tida como a máquina que movimenta a economia, nos empurra garganta abaixo.

Mas também, claro que sei que há limite para tudo e que nunca se deve comprometer o que não se tem para ter-se o que se quer, por capricho. Não irei fazer aquela apologia do "gaste agora, compre tudo o que quiser. Depois a gente dá um jeito". Obviamente, não. Mas também não fiz voto de pobreza e nem pertenço a uma ordem trapista. Os recursos do novo celular, a ser lançado para o Natal, já me faz olhar para o meu, como uma relíquia de 6 meses de idade...

As tentações possuem tentáculos. Obvio, não é mesmo? Assim elas nos arrebatam da nossa pacifica, e maçante vidinha comum e nos transportam para uma aventura digna de best-sellers e filmes de ação. Subjugam nossa vontade, ignoram qualquer lógica ou razão, e nos seduzem com a idéia de que seremos totalmente felizes se adquirirmos tudo o que quisermos, encontrarmos prazer com qualquer um, formos reconhecidos e bajulados por aquilo que temos e fazemos absoluta questão em exibir, naturalmente.


E, por que não por aquilo que somos ?, poderão me perguntar. Porque, em diversas situações, o que realmente somos deixou de existir, cedendo lugar a um ser movido exclusivamente por sensações, ilusões, fantasias, paixões, desejos e poderes temporários, de brevíssima duração. Eternamente insatisfeitos, sempre sentindo um vazio não identificável, vamos nos deixando arrastar, iludidos de que ainda temos algum controle sobre nossa vontade, nossos impulsos.

Na melhor das hipóteses, conseguimos a custo de muito sofrimento, e com o apoio de familiares, amigos e profissionais, nos libertar da compulsão de cedermos aos nossos instintos menos apreciáveis, aos nossos devaneios mais absurdos, aos nossos mais deploráveis vícios. Grupos de apoio existem e são eficazes nesse momento. Não é covardia e nem pouca auto-estima, reconhecer-se fraco, carente e dependente. Ao contrário, é preciso ser muito lúcido, para tanto. Ninguém vence todas as armadilhas que fazem do viver, especialmente sob o peso da observação, crítica e jugo social, uma arte.

Olhe bem para o simpático polvo (há muito tempo o Diabo deixou de lado o aspecto monstruoso e o aroma de enxofre...) no topo desta página, tão cheio de ofertas, de possibilidades, de pequenas e atraentes fantasias. Optar por qualquer delas pode resultar em ter de lutar pela própria vida, no fundo de um mar... de dívidas!