sexta-feira, 6 de maio de 2016

EXCLUSÃO





EXCLUSÃO

A fotografia acima é a síntese dos muitos problemas enfrentados por todos os portadores de deficiências físicas: o descaso generalizado em relação às suas necessidades.
Estar impossibilitado de locomover-se com as próprias pernas e deparar-se, como na foto, uma escadaria, é mais do que um obstáculo a ser enfrentado, mas o reconhecimento que a sua situação não merece o mesmo apreço que a das demais pessoas. É ser marginalizado pela sociedade instituída por não estar "em acordo" com o que ela considera certo, correto, representativo.

O cadeirante, na imagem, não tem acesso ao que pretende porque as demais pessoas, intencionalmente ou não, não levaram em consideração a sua condição ao planejarem a escadaria. E, pelo tamanho da mesma, é como se ali estivesse para lembrá-lo que aqueles que não estão em concordância com os padrões estéticos, econômicos ou culturais de um determinado momento histórico, serão punidos por isso, vetando-lhes atingirem seus objetivos.




A artista plástica Pamela Coleman Smith, ilustradora do tarot do ocultista Arthur E. Waite, criou para o 5 de Ouros uma imagem forte, onde a ideia de ostracismo, exílio, abandono, descaso, injustiça social é evidenciada. As duas figuras que perambulam pela rua, sob uma nevasca, passando num cenário urbano onde não há uma porta sequer onde possam pedir ajuda e abrigo, foi a maneira pictórica que a artista encontrou para representar a noção de rejeição, de falta de apoio social que os dois caminhantes enfrentam. 
Um deles, deficiente, utilizando-se de uma muleta (a incapacitação física) e com uma bandagem a lhe envolver a cabeça (a doença mental), com um sino pendurado ao pescoço, para, de antemão, anunciar a inconveniência da sua presença, indigna e inaceitável. A outra figura, feminina, envolve-se em panos rotos e caminha descalça pela neve, num evidente estado de miséria e privação (o colapso do aspecto material). 
Ambas caminham sob uma janela, onde um grande vitral com o desenho de uma "árvore da vida" formada por cinco pentáculos, é iluminada do seu interior, como que a nos lembrar que o abrigo, a segurança, o otimismo, as possibilidades, o suporte social ou religioso encontram-se bem guardados, protegidos, cultuados, porém inacessíveis aos que não fizeram jus (em que tribunal?) em merecê-los.

A ideia de injustiça permeia essa carta, que, provavelmente será reparada na próxima, o 6 de Ouros. Enquanto isso, as pessoas continuam a passar pelas calçadas abarrotadas de mendigos, enjeitados, doentes, deficientes, e procuram de todas as maneiras ignorar o que está em seu campo de visão. É como se, recusando-se a ver e conscientizar-se de que há insegurança, carência, impotência, doenças e todas as demais formas de privação, elas deixassem de existir ou as tornasse imunes aos problemas e preocupações.

Ainda que esse problema que assola nossas cidades deva ser algo a ser resolvido dentro da esfera governamental, é preciso que se estabeleça a responsabilidade individual, já que todo governo eleito é a representação do nosso caráter, do nosso estágio evolucionário e das nossas ideologias, crenças e aspirações.

Alex Tarólogo

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